O Som de Biafra
E a resistência dos sonhadores
Muitas pessoas que gostam de música se perguntam porque hoje no Brasil há uma estiagem de bons discos e uma (aparente) falta de criatividade, especialmente na categoria música popular. É do conhecimento dos amantes da música que o mercado fonográfico brasileiro não tem mais o mesmo vigor dos anos 70 e 80. Não temos mais o patrocínio das grandes multinacionais da fonografia – fato que afetou seriamente a produção e a distribuição – e, com o advento da mídia CD, sofremos um golpe de um monstro tenebroso: a pirataria.
Acontecimentos como estes e outros não possíveis de abordar neste editorial, realmente inibiram lançamentos de artistas comprometidos com a qualidade, já que o foco virou o fácil e descartável. No entanto, eles não pararam de produzir e buscaram caminhos alternativos para continuarem trabalhando com fidelidade e amor à arte. Isso se chama resistência e aí reside o poder dos sonhos. Um artista com sério compromisso com a excelência não se aventura em qualquer empreitada. Para se fazer um bom trabalho, não se leva em conta apenas o fim comercial deste, mas o quanto de pessoal qualificado está envolvido e quantos estão engajados com a ideia da qualidade e da fidelidade do som do artista.
Biafra faz parte deste contingente de artistas, por isso tem cuidado tão minuciosamente de um novo lançamento. A se julgar pelo último registro (“Segundas Intenções”, 2002), podemos compreender porque o cantor tem esperado o melhor momento para lançar seu próximo trabalho. Reunir gente qualificada para um projeto artístico é uma tarefa demorada e delicada. Mas assim são feitos os sonhos.